data Categoria: Colunas |  data Postado por Anildo há 12 anos | Imprimir Imprimir
O Político e o matuto

O velho Chico Cobrinha pitava seu cigarro de palha, sentado sobre um pequeno tronco de madeira, quando bateram palmas à sua porta, exclamando: – Ô de casa!
Sem mover um músculo de sua face surrada pelo tempo, o ancião respondeu decidido, com voz de quem sabe o que é a vida, pronto para qualquer situação.
– Minha porta não tem tranca; vai entrando por favor!
A fumaça do fogão a lenha enchia o interior do velho casebre e se misturava ao cheiro do fumo de rolo que queimava em seu cigarro. A cadela Piaba, que dormia sobre as patas magras, latiu ao perceber a presença de um estranho em seu território, mas foi acalmada rapidamente pelo seu dono. Sorriso bonachão no rosto, seguido por sua comitiva de umas oito pessoas, o esperto político, vislumbrando a figura mirrada do Chico Cobrinha, estendeu-lhe a mão dizendo:
– Meu bom velho, que prazer poder adentrar à sua casa e ser recebido gentilmente por você. Estou em campanha eleitoral e resolvi pedir seu apoio; o seu voto será decisivo para minha vitória.
– Seu dotô, aqui onde nóis mora é muito bom. Só eu, minha cachorra e as galinhas. A rotina só é quebrada de vez em quando, com a presença de uns safado, fugindo da puliça, que me pedem cumida e durmida. Já to acustumado a ajudá essa gente. Mas pedido de voto para a vitória é a primeira vez.
O esperto político interrompeu o Cobrinha argumentado que “tudo tem sempre a primeira vez”, e acrescentou: – Isto porque você não vai perder seu voto e eu vou ganhar as eleições!
– Seu moço – retrucou o velho Cobrinha – perdê ou ganhá aqui nestas bandas, não ficará mió nem pio, nem vortará ninguém a este casebre, neste fim de mundo…
– Não é bem assim seu Chico, – argumentou o político – eu pretendo transformar a beleza deste lugar em um parque de proteção ambiental, que vai lhe render um bom dinheiro…
– Seu doto, aí acaba a minha tranquilidade, o fogão a lenha não mais esquentará a bunda da minha panela com feijão, a minha cachorra Piaba vai perdê a paz e os pulíticos vão passá a mi oiá como concorrente… Óia, seu doto, me deixa in paz, pruqê eu num tenho muié e muié de pulítico repete sempre o ditado: quem num dá assistênça, perde a preferênça, abre concorrênça e sofre as consequênças…
– O que você quer dizer com isso Cobrinha? Interrogou o político.
O velho Chico, sorriu pelo canto da boca e concluiu enfático: – Só a muié é que sabe….