data Categoria: Colunas |  data Postado por Anildo há 13 anos | Imprimir Imprimir
JUCA MASCATE E O TROVADOR

Em todo o território brasileiro a literatura de cordel enriquece a cultura popular com seus livretos pendurados em cordões (origem do nome literatura de cordel), recheados de versos e rimas a contar a história de um povo sofrido ou um fato de interesse público. Vários trovadores ou repentistas se destacaram ao longo dos séculos mantendo vivo um movimento literário trazido pelos portugueses e abraçado com fervor por pessoas simples, de pouco saber. Autores como Patativa do Assaré, contaram em versos toda a poesia de uma região castigada pela seca e pela miséria. O Nordeste exportou para todo o Brasil gente desta estirpe, de inteligência privilegiada capaz de rimar amor e ódio, alegria e tristeza repentinamente em odes de estrofes não simétricas.
Havia chegado a estas paragens, um mascate, lá pelos anos sessenta, rotulado com a alcunha de Juca Mascate, oriundo de Ribeira do Pombal. Juca Mascate se radicou nesta região, constituindo família que lhe rendeu filhos e uma esposa dedicada que o ajudou a crescer na vida, no comércio ambulante e como produtor de piaçava. Na labuta diária, Juca Mascate conquistou inúmeros amigos e dezenas de compadres em suas andanças pelo vale do Jequitinhonha vendendo açúcar, feijão, sabão, querosene, fumo de rolo, abastecendo os “barracões” – pequeno comércio – dos senhores fazendeiros de cacau.

Bom de prosa, chegado a uma roda de vinho Reserva, Juca Mascate sempre foi o centro das atenções onde estivesse. Contador de piadas, conhecedor de remédios caseiros à base de ervas “receitou” fórmulas, chás e infusões para curar doenças psicossomáticas das populações ribeirinhas. A sua sabedoria popular lhe rendeu um status de pajé, curandeiro, benzedor e por vezes, doutor. Certa feita, ele ouvia atentamente as trovas de um canoeiro, conhecido por Raimundo Remador, mestre do repente, aplaudido por todos que assistiam ao seu show de rimas, e numa atitude de desafio, o interpelou, duvidando que o trovador não faria uma estrofe com seu nome, devido a dificuldade de rima. O Raimundo Remador, sem alterar um único músculo da face em ato repentino, recitou: Com “c” se escreve cachorro, camundongo e calafate; Com “c” se escreve c…… no c… de Juca Mascate!. A galera riu e Juca Mascate na sua polidez costumeira, abraçou o repentista, pagou mais uma rodada de vinho Reserva e foram comer buchada na canoa de Antonio Dandi.