data Categoria: Colunas |  data Postado por Anildo há 13 anos | Imprimir Imprimir
Dodô do chafariz
Dodô do Chafariz nasceu Salvador, predestinado a fazer rir as crianças. Vida pacata, família solida e feliz, cidadão responsável com suas obrigações, zeloso em suas atividades de fornecer água de boa qualidade, no chafariz da Praça São João, numa época em que noventa por cento das casas destas terras possuíam cacimbas –conhecidas como fontes -, Salvador era exemplo de dignidade, respeito e coerência para sua prole e orgulho para seus amigos.
Sempre de bem com a vida, Salvador em momentos de lazer, incorporava a personalidade de “Dodô do Chafariz” para alegria da garotada da Praça São João e adjacências. Caretas, requebros, mímicas e outros trejeitos identificavam Dodô do Chafariz, cercado por infantes em explosão de risos, provocado pelo pantomímico inato, já sexagenário. O show começava para deleite da molecada que insistia em pedir mais do cômico famoso até levá-lo a exaustão. Transeuntes paravam para rir porque eram contagiantes suas pantomimas e sua expressão corporal, de silhueta inconfundível.
Expert na confecção de licores de jenipapo, cacau e beriberi, consumidos por nativos e visitantes, Dodô do Chafariz impressionava sua freguesia apresentando seus trejeitos para vender seus produtos tão procurados. Fiel aos seus princípios religiosos, freqüentava a igreja para se redimir dos pecados quando assombrava as pessoas com caveiras construídas com o fruto do mamão verde, que carregava sobre a cabeça, com uma vela acesa, após o apagar das luzes, depois das 23:00h. – “Apareceu visagem na Praça São João – afirmavam no dia seguinte os noctívagos “graxereiros” daquelas bandas, com medo da “assombração”. Dodô do Chafariz ria a cântaro dos machões medrosos que fugiam de suas caveiras, mas se deleitavam com suas pantomimas.

Nota:-“Graxereiro”- neologismo de época para rotular os namoradores de empregadas domésticas.